Crónicas de uma década incerta

Como tive a sorte de ser testemunha ocular de duas décadas muito especiais, revolucionárias, se quiserem: os anos 60 e os anos 2010, ocorre-me que ambas têm em comum representarem uma espécie de preâmbulo ou anúncio de tempos de grande mudança, ou seja, o fim de algum paradigma ou modelo e a emergência de um novo, talvez um contra-modelo, mesmo dentro do próprio regime económico capitalista. Relendo esses artigos, descobri uma espécie de hipótese subjacente que fica clara no meu artigo final: o sucesso do desenvolvimento de um país depende da dose certa de dois grandes instrumentos: o Estado e o mercado. Cada um com as suas virtudes e defeitos. A minha experiência de quase vinte anos a viver na Dinamarca, talvez o país mais desenvolvido do mundo, convenceu-me da importância destes dois instrumentos. Com a queda dos socialismos reais em 1989-1990, a discussão sobre capitalismo versus socialismo chegou ao fim. O que permanece, no entanto, é o regime político democrático.